Pages

quarta-feira, 27 de setembro de 2017

você menino flor
que não acredita nas suas pétalas
e que não voa com a sua leveza
é menino ainda
nessa barba por fazer

você menino que não parece
que surgiu só esses dias
e que colore
pensando em me curar
não vê que está curando a si

você
menino
que ocupa a 20 dias meus pensamentos
incessante

você, menino

(parece muito mais)


quarta-feira, 20 de setembro de 2017

é que não tá dando pra parar de pensar em você

ontem lá no terreiro me disseram: tem gente que o encontro é cármico, cê vive uma vida em 5 minutos.
achei bonito. bonito, né?
eu num sei se é isso de carma, apesar de achar que é. eu sei que cê veio num momento que eu não precisava de você. parece ruim, dito assim, mas na verdade é ótimo. cê chegou no momento que eu tô inteira e eu te conheci sem carências. cê foi e eu continuo ótima, mas teria sido bom se cê tivesse ficado mais um tiquin.

bá, parece que eu perco a capacidade de escrever quando o assunto é tu, menino. mas ficam aqui algumas notas:

"pensei em milhares de maneiras de começar esse texto. é estranho escrever pra quem você não conhece. será que não?
(...) é que esse não é um texto de amor, nem de dor, nem de coisa clichê alguma. é sobre encontro certeiro. sabe quando parece que a gente já se conhecia?
não sei se era o hambúrguer, a embriaguez ou aquele origami. talvez tenha sido a lua do dia, o cheiro do meu próprio perfume ou a mão entrando no meu cabelo.
eu sei que você sabe, eu vi que cê tbm tava lá.
(...) agradeço o encontro!
deixo aqui a lembrança, um pouco da melancolia e o infinito da poesia daquele por do sol.
foi lindo seu breve viver em mim!"

difícil mesmo fazer entender.
mas é isso aí, nosso amor foi um gif?

https://www.youtube.com/watch?time_continue=1&v=Oa_L_JfzlV4



terça-feira, 11 de julho de 2017

demora não

tem dias que eu sinto saudades de você
mesmo sabendo não te conhecer



















"Onde você ainda se reconhece
Na foto passada ou no espelho de agora?"

domingo, 2 de julho de 2017

as vezes o inverno ainda dói

das marcas que ficaram
as que mais doem nada tem a ver com a pele
que você tocou como que pra machucar

não são as que ecoam
quando eu lembro do seu tom gritado
me querendo enlouquecer

não é nem aquele delírio
de misto de tortura psiqué
nem aquele frio insuportável
e nem a paris pesada que você criou

a marca que não dá pra apagar
é a que me lembra
que apesar de tanto mal
as minhas melhores lembranças são todas suas



terça-feira, 11 de abril de 2017

alguns (poucos) fatos

A primeira vez que eu me lembro eu devia ter uns 7 anos e eu queria dizer pra dois coleguinhas que eles iam se machucar naquela briga, tacando pedras um no outro, no parquinho. A pedra foi no meu rosto e a covinha que ela deixou tá aqui até hoje, 18 anos depois. Naquele dia, a mãe do menino, que assistiu tudo, disse que não era nada, era só uma castanha. E naquele mesmo dia de noite, teve uma festinha em um salão legal, e esse menino passou a festa toda brincando e correndo e eu tive que ficar sentada, tomando cuidado com meu rosto inchado. Alguns dias depois essa mesma mãe escreveu no carderno do filho que o mundo era dele e que ele passasse por cima de tudo e todos pra garantir isso. Os adultos insistiram por algum tempo que aquela covinha era um charme, que algumas pessoas até pagavam caro pra ter.

Uns poucos anos depois, quando chegou uma menina nova na sala, eu e os colegas fizemos de tudo pra que ela não se sentisse bem vinda. A postura dela era certa demais, o lugar de onde ela vinha diferente demais, tudo era motivo pra atacar sem motivo a colega nova. Tinha até musiquinha.

Ironicamente, ou claramente, eu e a menina esquisita viramos melhores amigas. No ano seguinte o alvo éramos nós duas:  um dia, depois de uma excursão (que eu até comprei um boné novo, vermelho, só pra ir) fizeram uma brincadeira de ler em um microfone recadinhos anônimos. O adulto que comandava não exitou em ler um que atacava nós duas condenando aquela, aparentemente, estranha amizade. Já não sei bem como, mas aí começou um pequeno inferno. Aos 11 anos pessoas estranhas me abordaram na escola perguntando meu nome e dizendo já terem "ouvido falar"de mim. Eu nunca soube o motivo, mas eu parei de receber convite pras festinhas e as vezes deixavam em cima da minha mesa só pq algum adulto, certamente, tinha obrigado. Tinha um professor de geografia que atacava as alunas de 11 anos e fazia os garotos rirem e aí deu-se o início de uma exclusão daqueles que ainda não queriam ser adolescentes. Eu só queria brincar de Barbie, mas eu "tinha"que beijar na boca.

Eu chorava todos os dias e todos os dias era um bilhete novo, um ataque novo, lágrimas, minha mãe ligando pra outra mãe e eu e minhas duas amigas ficando cada dia mais estranhas aos olhos dos colegas. Mudei de escola quando não dava mais. Amigos novos, tretas novas.

Um dia eu cortei o cabelo curtinho, tava me sentindo estilosa. Os colegas acharam que o volume tava demais. Desenho no quadro, apelido, risada coletiva, todo mundo disfarçando quando eu chegava perto. Eu engoli e acho que, dessa vez, eu nem contei pra minha mãe.

Quanto mais eu me distanciava das pessoas da escola, mais elas se distanciavam de mim e dos meus amigos. E quanto maior era essa distância mais esquisito a gente ficava. Aos 13 anos o nosso hobbie era juntar no fim de semana para assistir filmes tipo Efeito Borboleta, ler livros do Stephen Hawking e filosofar sobre teorias conspiratorias, comendo um monte de batata frita. Era moicano roxo, all star, cabelo na cara. Esquisitos, esquisitos.

O ensino lá nessa escola nova não tava muito bom e os amigos todos decidiram tentar a escola difícil. Fizemos a prova, passamos todos. O recomeço? Esquisito. Já era todo mundo adolescente, imerso nos seus dramas e amores pessoais, a escola exigia muito mas dava alguma liberdade. A nossa bolha se uniu a uma outra bolha e nosso grupinho, com todos os seus dramas adolescentes pessoais, era feliz. A gente era esquisito junto, tava descobrindo os rocks, a sexualidade, o álcool, as dores. Todo mundo junto.

A gente fazia festa do pijama e dançava na sala da casa de um amigo até de madrugada, depois de comer um monte de chocolate. A gente subiu montanha, jogou war, foi em festa do Harry Potter, em balada, na praça. Mas o problema era que fora da nossa bolha as crianças populares não achavam que a gente era tão legal assim. "Vocês são diferentes", eu lembro do dia que a menina perfeita, frequentemente sexualizada pelos adultos, me disse. "Aquela ali até que é bonitinha", "aquela é sapatão", "viado"! Nada disso é xingamento. Mas naquele contexto a intenção era essa.

Um dia eu tava com as minhas amigas conversando no recreio, embaixo de uma escada.  Nós éramos taxadas de feias (e nós estávamos em um fase que nosso lema era: o que vale é a beleza interior e ser muito esquisito por fora) e uns meninos populares ficaram nos cercando. Falaram que um deles queria ficar com uma de nós. Devia ser alguma espécie de aposta idiota. Doeu. Mas a gente riu.

Eu mudei de escola de novo. Três vezes. Em duas dessas mudanças, acompanhada da minha melhor amiga, tanto faziam os rótulos. A gente enfrentava todos os não convites para festas de 15 anos com nosso diskman. Naquela época já não importava mesmo. Ou, ao menos, o disfarce era rígido.

Na última escola que eu estudei, já quase no fim da adolescência, eu era meio neutra. Assumi a postura de nerd estranha, que não tinha o tênis da moda, deduzia as fórmulas de matemática, ia na balada gay no fim de semana e tinha amores e amigos estranhos. Eu era meio que amiga de todo mundo, em uma postura diplomática. Não contava os segredos de um grupo pro outro, desenhava durante as aulas, passava os recreios lendo na biblioteca, era convidada pra todas as festinhas. Era quase tudo certo, mas teve aquele dia que três meninas me pediram pra ajudar elas com matemática.

Eu fui na casa de um das minhas colegas, com minha boa intenção, ensinar pra elas a matéria. Durante todo o tempo que eu tentei repetir alguma fórmula, escrevendo em uma lousa, elas riram de mim, do meu jeito, de qualquer coisa que eu fizesse. Elas queriam saber do meu namorado mais velho, cabeludo, ESQUISITO. Elas pegaram no meu peito e disseram que o delas era pequeno mas ao menos era duro. Elas repetiram todos os meus trejeitos, por horas. Ninguém estudou matemática.

Eu e meus amigos sobrevivemos (não tão obviamente assim). A verdade é que tudo deu muito bem: quem era gay ficou bem resolvido, todo mundo estudou nas melhores universidades, mil casos de amor, teve casamento, teve um monte de emprego, umas trocentas conversas profundas, uns porres, um monte de brigadeiro. Sei lá.

A gente foi pra faculdade, eu mudei de cidade, os meus amigos foram lá me ver várias vezes. Problemas novos, morar sozinha, uma vida menos infantil. Mas com 19 anos um dia eu acordei e eu não quis sair de casa. Eu não sei explicar bem, mas um dia eu acordei e as coisas só não faziam sentido. Eu queria morrer e aí começou: psiquiatra, remédio, livro de oração. Remédio pra dormir, remédio pra acordar, remédio pra passar o dia. Email da tia, ligação da vó, vigilía 24h. Todo mundo já tinha se sentido assim, ia passar, você é tão bonita, é tão inteligente, pra que isso? Eu tinha uma amiga comigo e ela me dava remédio na boca. Pq tinha dia que eu não queria mais. E tinha semana que eu ficava 5 dias dentro de casa e só saía pra comprar um hambúrguer e também teve várias vezes que eu tomei 3X a dose do remédio.

Enfim.

ESQUISITOS, ESQUISITOS.

diferentes.

Eu passei esses anos todos acreditanto que ser diferente era ofensa, mas agora prefro encarar como originalidade. Aqui na minha versão adulta, outros problemas mal resolvidos, terapia, desemprego, relacionamento abusivo, feminismo, faculdade de primeira linha, encontro comigo mesma, meditação, diploma, amores, encontro, desencontro e aquela aranha enorme na cozinha. Eu fui ver 13 Reasons Why e eu fiquei mal como se fosse aquele dia que eu levei uma pedrada na cara. Eu fiquei mal porque é realmente uma bosta (!) saber que aquilo lá aconteceu com você e que você também fez aquilo por alguém. Eu fiquei mal de saber que o mundo ainda é tratado com essa dualidade: bom ou mau. E de saber que ainda tá tudo do mesmo jeito na escola e que a saúde mental das pessoas ainda não é tão importante assim. Sei lá. Gatilho, eu num momento frágil, meio de saco cheio da internet, e de tanta opinião e de justiça virtual. E se eu ainda fosse adolescente?

Eu senti raiva e senti medo desses moleques todos da minha vida (e do corpo que eu quis tanto mudar, o cabelo que eu quis alisar, o peito que reduzi, as roupas que eu larguei pra lá). Sério. Medo de todos eles e do que quer que eles tenham se tornado. Vai ver se tornaram pessoas legais. Mas sei lá.

Hoje não vai dar pra ser otimista. Mas amanhã, quem sabe.

Sei lá.